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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 28 de abril de 2024
 

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Mensagem: A ARTÉRIA Nos anos 50, Montes Claros era uma mistura de romantismo da roça, personagens do coronelismo, política de currais, medo, preconceito e subserviência religiosa. A Rua Doutor Santos, o centro nervoso da área comercial, destacava-se como a principal via de circulação da cidade, por aonde todos iam e vinham. Pavimentada em parte com paralelepípedos, que permitiam o estrepitar dos cascos das cavalgaduras rumo ao Mercado Central, por ela trafegavam deselegantes Ford Bigode e suas buzinas fon-fon, Virgínio Preto montado em algum alazão, Neco Santa Maria e os seus óculos modelo Ronaldo, João Athayde, sempre apressado, elegantemente vestido com terno de linho branco S-120, Deba de Freitas, destemido e temido coronel político, dono de muitas terras e currais. Muitas pessoas, ao vê-lo na rua, por respeito e temor mudavam de passeio. A qualquer hora, não se sabe vindo de onde, podia irromper um tiroteio entre componentes de partidos rivais ou pistoleiros a serviço dos mesmos. Vei da Lilí e Ezupero ferrador, o famoso Bigode de Arame, eram os representantes da fauna campesina, quando as crianças ainda beijavam a mão dos coronéis em sinal de respeito! Pela via circulava o hoteleiro Juca de Chichico, com panca de artista de Roliude, alegre, brincalhão. A garotada, ao vê-lo, gritava: “como vai, seu Juca!” Com gestos engraçados, ele respondia: “que aperta e não machuca!” Também Manoel Quatrocentos, com sua caminhada curta, gestos rápidos, raciocínio preciso, sempre vestindo roupas de muitas cores, meninos com suspensórios e meninas de boina nas suas bicicletas suecas. Quando chovia, caminhões atolavam no lamaçal da Praça Coronel Ribeiro, um pouco acima. Aos domingos, desfilavam elegantes senhoras com xale preto no ombro, portando terços de prata e missais, nos seus longos e elegantes vestidos confeccionados em tecido estampado da Bangu, no atelier de Mercês Prates, o “must” da época, dona da Imperial Lojas. Elas usavam grandes brincos balangandãs, broches e pulseiras em côco e ouro, num contraste com a rapaziada do Bairro Sessé, hoje Santo Expedito, passando descalços e com os pés rachados. Teresinha Bom Bril, bonitinha e espalhafatosamente trajada “à moda” dos grandes salões das metrópoles, na versão tupiniquim, caminhava por toda a extensão da rua, distribuindo simpatia e atraindo clientes para o seu lupanar de luxo. Em cada esquina, grupos de conhecidos trocavam dois dedos de prosa. Apreciavam os pastéis da Leiteria Celeste e bebiam cerveja casco verde no bar do Nelson Vilas Boas. Viam-se caboclas com seus cabelos espichados à base do pente de ferro, esquentado com um aparelho de solda conectado à energia elétrica, ou mesmo no braseiro. Sem contar Leonel Beirão, com sua charanga e a grande boneca, fazendo reclame, que assustava a meninada. Duas vezes ao ano, um ringue de madeira era armado na Praça Coronel Ribeiro para o festival de lutas de boxe. Na refrega principal, brilhava nosso Leônidas Halterofilista, enfrentando Lero Reis, o Gigante Branco, vindo do Rio de Janeiro. Nas preliminares, apresentavam-se lutadores novatos que criavam o clima e ajudavam a esquentar o ânimo da platéia. No bar de Tiano, na esquina do Mercado Municipal com a Praça Doutor Carlos, uma velha eletrola RCAVictor de corda, movida “à manica” (manivela), tocava canções de Chico Viola, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba e tangos de Gardel, enquanto cabos eleitorais do PSD e do PR tentavam conquistar novos eleitores.

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