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Mensagem: Semana Santa José Prates A Semana Santa está aí, batendo às portas e quando ela se aproxima, muitas coisas nos lembram, principalmente, a infância sujeita à religiosidade dos pais, na velha Jacaraci, sertão baiano. Semana Santa, era Santa e cumpria-se o que a tradição determinava, não importando que fosse rico ou pobre. O jejum era mesmo jejum e começava na quarta feira com a proibição de comer qualquer coisa, fora do almoço que era servido sempre ao meio dia, em mesa posta, forrada com toalha bonita. Toda família à mesa para a oração antecedendo a refeição especial. Carne, nem o cheiro. O prato do dia era um ensopado de peixe, na maioria cheio de espinhas que requeria o cuidado ativo das mães para com os filhos, não deixando que engasgassem com as espinhas. Bacalhau não tem espinhas, mas, não era peixe pra toda mesa. Vinha de fora, a preço que nem todo mundo podia pagar. Um ou outro gabava-se do almoço com bacalhau que lhe fazia tomar água o dia inteiro. A Via Sacra, na quarta feira, era de tarde. Não ia muita gente. Eu ia com minha avó Silvina e como era coroinha e candidato a seminarista, carregava a cruz, indo de estação a estação, cantando que “a morrer crucificado, meu Jesus é condenado, por seus crimes, pecador” Não entendia o que queriam dizer com “seus crimes, pecador”. Minha avó, então, explicava que os nossos pecados foram os crimes que levaram Jesus ao Calvário, e eu Ia pensando nisso, enquanto carregava a cruz devagar, parando em cada estação para as orações. Na quinta feira, alem da missa, pouca coisa existia. O mais interessante era o lava-pés. Somente crianças tomavam parte, representando os apóstolos. Ninguém queria ficar no ultimo lugar do lado esquerdo porque diziam ser o lugar de Judas. Todos os meninos com a medalha da congregação do Sacrado Coração dependurada no pescoço, com fita vermelha, tinham os pés lavados e enxugados pelo sacerdote que era acompanhado pelo sacristão que, naquele tempo, era o André, um carpinteiro competente que, também, me ensinou a “ajudar missa” com todo latinório. Sexta-feira da Paixão. Dia inteiramente santificado. Nem casa era varrida; nem cabelo era penteado. Criança não podia apanhar. Tudo ficava para sábado de aleluia. A meninada aproveitava a sexta feira de impunidade. Todo mundo ia pra Igreja adorar o Senhor Morto exposto à adoração ao lado de uma bandeja pra recolher donativos. A igreja enchia, a maioria sentada no chão. Era “gente da roça” que vinha de longe, mulheres de saias longas que se esparramavam no chão da Igreja. À tarde, era a procissão do enterro, saindo da Igreja, percorrendo as ruas centrais e voltando. Era muita gente que acompanhava a procissão, muita gente chorando comovida. Lá em casa, nesse sexta-feira, todo mundo ia dormir cedo porque a ressurreição era na madrugada, e minha avó fazia questão de estar acordada para dar a notícia á Nossa Senhora. Quando os galos cantavam a segunda vez, na madrugada de sábado, minha avó levantava-se, colocava-se de joelhos, erguia os braços e dizia: “minhas alviceras, Nossa Senhora, seu Filho ressuscitou”. Eram cenas comoventes que hoje não existem mais. Não existem por vários fatores um dos quais é a modificação da própria religião adequando-se ao desenvolvimento religioso do povo (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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