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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Reflexão sobre o crime e a mídia Alberto Sena O artigo assinado pelo jornalista Oswaldo Antunes – ‘A mídia e o crime’ – teve num átimo o condão de me transportar de volta à década de 1970. Naquela ocasião, na cobertura de polícia para o jornal Estado de Minas, trabalhava sob a direção de Wander Piroli, que além de jornalista egresso do combativo jornal Binômio, era escritor, um dos mais importantes da literatura brasileira, autor de livros como ‘A mãe e o filho da mãe’, ‘Minha bela putana’ e outros mais. As pessoas não conseguiam entender como um escritor da estatura de Wander Piroli era ‘editor de polícia’ do jornal Estado de Minas. Havia um surto literário em Minas, pois além de Wander surgiram, para a nossa alegria, escritores como Oswaldo França Júnior, Roberto Drummond, Luís Vilela, entre outros, figuras sempre presentes ali na editoria de Polícia do antigo ‘jornal dos mineiros’. Em companhia de repórteres como Fialho Pacheco, ele, que acabara de fechar acordo tácito com a imprensa para deixar de publicar ocorrências de suicídios, e Paulo Narciso frequentei muito o Departamento de Investigações da Polícia Civil, em Belo Horizonte, na Lagoinha. Naquela época, não havia as seccionais. Com exceção da Delegacia de Furtos e Roubos, todas as demais funcionavam ali na Lagoinha. No dia a dia era uma correria só; um subir e descer escadas à cata de notícias e muito mais ainda atrás de um furo de reportagem. Naqueles dias o furo de reportagem estava em voga. Hoje nem tanto, com essa facilidade de comunicação, todos os jornais têm a mesma cara e noticiam os mesmos acontecimentos. Ali, onde também funcionava a masmorra batizada de ‘Depósito de Presos’, vimos de quase tudo que se podia ver num lugar para onde se afunila o que há de pior na sociedade: os assassinos, os ladrões e assaltantes, os estupradores etc. De um dia para o outro ali estava eu, acostumado a cobrir ocorrências policiais em Montes Claros, onde ‘até cachorro anda devagarzim’, segundo concluíra um dos meus filhos, aos dois anos de idade. Com o tempo pude perceber toda a carga negativa dessa cobertura de polícia. Se antes os jornais publicavam as ocorrências policiais mais para mostrar aos cidadãos como não se deviam comportar em sociedade, porque podiam ser presos pela polícia e ter o nome escrachado no jornal, logo tudo mudou. Pude perceber que não só a publicação de suicídio estimulava a ocorrência de outros casos semelhantes. Entrevistei várias pessoas no dia a dia e no final entrava com a pergunta fatal: ‘Por que você fez isto’. Vários foram os casos em que ouvi a resposta: ‘Um amigo fez isto, apareceu na TV e a foto dele foi publicada no jornal e eu também queria a mesma coisa’. Uns querem aparecer bem, mas em meio à sociedade há quem queira aparecer a qualquer preço. São os doentes de patologias várias no meio de nós. Quando aconteceu o massacre de Realengo, no Rio, eu disse à Cynthia Bernis, integrante da ‘República do Pequistão’ no âmbito do FaceBook, sobre o perigo de a mídia fazer justamente o que acabou fazendo em relação ao caso. O autor dos disparos, cujo nome me recuso a publicar, acabou sendo mostrado de quase todos os modos. Para as mentes doentias, que precisam de um estímulo a fim de mostrar sua loucura, o que fizeram com o atirador é um prato cheio. Mas foi lá atrás, na década de 1970, quando o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) lançou o jornal ‘Pauta’, que, como repórter da Editoria de Polícia do Estado de Minas, e um dos ganhadores do Prêmio Esso de Jornalismo de 1977, com o ‘Caso Jorge Defensor’, me convidaram para escrever sobre os rumos da cobertura de polícia na mídia. Escrevi o artigo e enfatizei justamente isto: ‘a cobertura de polícia na imprensa, da maneira como é feita, estimula outras ocorrências semelhantes’. Lembro-me bem de que o então Editor Geral do Estado de Minas, Cyro Siqueira, estranhou a minha observação. Considerou-a ‘uma incoerência’ da minha parte, como ‘repórter de polícia que era’, coisa que nunca fui. Naquela ocasião, eu era um simples repórter. A cobertura de polícia era – como foi – uma função eventual. Cumpri minha pena. Mas continuo repórter, sempre.

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