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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Jacaraci em noite de São João José Prates Quando não tenho nada a fazer - o que é raro - sento-me no sofá da sala, com a televisão desligada, fecho os olhos e fico remoendo o passado, uma maneira que encontro para descansar a mente, lhe afastando do agora cheio de problemas. Busco lá no recôndito, as coisas passadas em momentos que me fez feliz naquele tempo, quando, ainda, criança, pouco antes da adolescência chegar com suas novidades. Agora, nestes dias, estamos às vésperas de junho que me lembra as noites alegres de São João que tive na Jacaraci que me viu nascer. Essa lembrança busca no arquivo da memória aquele tempo alegre, trazendo-me à boca o gosto da canjica e do milho assado na fogueira. Era na rua de baixo, onde moravam tio Tone e tia Candida, que a gente brincava à beira da fogueira ou correndo pela rua, soltando “traque”. Na calçada da casa de “seu” Atanásio, as cadeiras que ali colocaram já estavam todas ocupadas pela família recebendo o calor da fogueira que já estava alta. As bombinhas espocavam por todo lado; o céu enchia-se de balão colorido, com fogos de artifício derramando em lagrimas caidas do céu iluminando. Nina, minha prima, colocou disco na vitrola e aumentou o som pra todo mundo ouvir que “é noite de São João e o céu está todo iluminando, pintadinho de balão”. No salão da casa de “seu” Chiquinho David vai ter baile ao som do gramofone. O salão foi todo encerado. Lafontaine vem me chamar para irmos ao largo da Igreja. Minha avó não deixa porque lá estão fazendo guerra de “espada” e é perigoso. Fico sentado na cadeira, perto da fogueira, esperando o milho assar. Vivinha, filha de Dona Dedé, com vestido de chita e chapéu na cabeça, passa com pressa para ir pro baile caipira. Nair, filha de “seu” Aristarco vem me ver e conversamos um pouco, na beira da fogueira. Ela vai embora e eu fico triste. O tempo passa e a gente não vê; o sono chega levando todo mundo pra cama. O dia amanhece e, das fogueiras, só restam cinzas e sabugo de milho, povoando a memória. Eu fico ali, parado, de olhos fechados sem querer trazer a mente para o agora cheio de compromissos que a vida hodierna nos impõe. São João está chegando, menos de um mês, mas, ninguém vai ver fogueiras nem meninos correndo nas ruas soltando bombinhas. A vida moderna com todos os seus avanços matou a poesia da vida antiga porque tudo cresceu sem deixar lugar para o romantismo de um povo sem pressa de chegar. Não sei, mas, Jacaraci, a minha Jacaraci, não pode ser aquela. Cresceu, naturalmente, e as fogueiras são, apenas, lembrança que não morrem naqueles que as viveram e ainda estão em vida. Quantos são eles que ainda existem? Sei não. Poucos, eu acho. Tudo bem. O tempo passou, a mente descansou no passado. Vamos voltar ao agora. O computador nos espera. Ah... ia me esquecendo: alguém que ler esta crônica e conhecer o Jacaraci de agora, por favor, mande-me dizer como ela está. Obrigado. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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