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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: O Dia Mais Feliz da Minha Vida Virgínia de Paula Andando pelas ruas vejo que as vitrines que ostentavam trajes de anjos há poucos dias, agora mostram vestidos para as quadrilhas juninas. Bom saber que ainda acontecem. Bom ver que o clima festivo de junho permanece. Vejo cartazes anunciando forrós, atendentes das lojas vestidas de caipiras, ouço foguetes (para mim, dispensáveis) a todo o momento. Há diferenças entre as festas de hoje e as de ontem, mas, o importante é que ainda acontecem. Aqui em casa, celebramos todos os santos do mês, acendemos fogueiras, levantamos os mastros, comemos canjica e bebemos quentão. E, enquanto acendo uma chuvinha de prata, ouço um toque de safona me chamando. Curiosamente, o som é de uma música americana: “Sentimental Journey”. Quem toca, é nosso querido Beto Oliveira, no quintal do Sr. Levi Peres, enquanto aguarda o ensaio da quadrilha. Lá estou eu sentada na escada dos fundos, à distância, sonhando com o dia que eu poderei também dançar. Olho para o céu estrelado. “As estrelas do espaço profundo, são os balões lá do céu”, divago, lembrando outra música, enquanto Beto ainda toca a estrangeira, que, de certa forma, convida-me para uma viagem sentimental. É o que faço agora. Meu pai chega em casa, trazendo os primeiros de uma série de pacotes de “fosqueletes” e busca pés. Com isso, dou-me conta que junho chegou com suas noites longas e frias. Tudo tão diferente dos outros meses. Comidas, clima, diversões, roupas, cheiro, tudo diferente. Até os afazeres são exclusivos do mês. Por exemplo: confeccionar “borboletas”, um “traque” caseiro, feito com uma tira de papel enrolado em forma de triângulo e um cordão com pólvora, no centro. Coisas de vovó Lica. Enrolar biscoitos e ter o prazer de saborear aqueles que formam nossos nomes; Recortar bandeirolas, preparar o grude, estirar cordões pelo quintal afora, colando-as neles, uma por uma, seguindo uma seqüência de cores; Cortar bambus do fundo do quintal para ornamentar a entrada do “arraiá”; Colocar lanternas japonesas nas lâmpadas, enfeitar os mastros com as estampas dos santos, comprar chitões para os vestidos, enfeitar os chapéus de palha com fitas, preparar a fogueira. Quase todas as noites, uma festa. Muitas delas, na nossa Chacrinha. Sempre com quadrilha, marcadas excepcionalmente bem por meu pai. As escolas tentam atrapalhar nossa alegria marcando as tais provas semi finais, mas, em vão. Como resistir ao “ anavant”, “anarrière”, “tout”? Além das festas que pipocam diariamente na cidade e nas fazendas, há aquelas de datas fixas: Dia 12 , na Padre Teixeira, com fogueiras ao longo da rua. Depois, em casa de Seu Marcelino, nosso jardineiro. Dia 13, aniversário de tio Antônio. Dia 19, o da minha mãe. Dia 23, de Tio João com continuidade na nossa avenida, na festa de “Seu” Manoel Araújo. Dia 24, aniversário de Walmor. Dia 28, no Pentáurea. Vamos bem cedo trabalhar na decoração e fazer os saquinhos de biscoitos e pés de moleque a serem distribuídos gratuitamente na barraca de Hermes de Paula, onde também bebe-se do quentão autêntico. Lá está mamãe atarefadíssima, na antiga casa de Seu Zé Cocá, vestida com roupas do Gurutuba, trança postiça, rosa vermelha nos cabelos: a mais bela caipira que já se viu. Muito frio, mas...a farra compensa. Por lá, dormimos embolados em colchões no chão e achando tudo ótimo. Dia seguinte, a volta pra casa sabendo que o mês tão colorido, está no fim. Ano que vem tem mais. Minha viagem dá um salto para o ano em que começo a participar das quadrilhas sem ter irmãos ou primos como pares. Tudo o já descrito se repete, acrescido da nova emoção. Alegria misturada com ansiedade. Convites chegando a toda hora. “Hoje é na casa de Lilia. No sábado, na casa de Selma. Semana que vem, aqui em casa, na festa do CIC”. Dúvidas atormentando. “Será que posso repetir a roupa de caipira? Poderei usar blusa de frio? Quem será meu par na quadrilha do dia 21? Que presente devo comprar para ele?” Suspiros... Onde estou agora? No Dia dos namorados! Junto a uma bacia cheia de água, vela acesa inclinada, olhando com atenção as gotas de cera que pingam. A letra formada será a inicial do futuro esposo. Formam um Jota! Libero um daqueles gritos que só os adolescentes sabem dar. O meu favorito número dois na cidade tem nome começado com jota! Mas...e o número um? Ah, é daqueles que passam voando numa vespa e desaparecem na primeira esquina. Sem me ver. Como um...artista de cinema. Alguém para ser admirado à distância. Chega o dia 16, com novo ensaio, no enorme quintal dos Cardoso. Hora do Grand Promenade. Cavalheiros de um lado, damas de outro. Próximo passo é com o par vis a vis. A moça a meu lado percebe que vou dançar com quem ela quer.- “Troca de lugar comigo! Pode ser?”-“Claro, por que não?” Respondo sem saber quem viria para mim com essa troca. Cavalheiros e damas se aproximam. Começo a desconfiar... Não é possível! Mas parece que é ele mesmo! É sim! Exatamente, o favorito número um! Meu par durante todo o grande túnel. Meus pés mal tocam o chão. Flutuo. Fim de ensaio, amigas me cercam. “ Que sorte foi essa? Que simpatia você fez?” Naquela noite, escrevo em meu diário:´ Dia 16 de junho de 1962: O dia mais feliz da minha vida´.

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