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Mensagem: KONSTA “Não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.” John Donne “Quão breve tempo é a mais longa vida”, lamuriara Fernando Pessoa em poema disperso. É nessa brevidade que todos se compreendem. Do berço ao ataúde, vai-se calcando no coração tantos outros breves viventes, como se aquele órgão fosse, além de motor da vida, um baú em que se guardam os tesouros encontrados ao acaso do caminho. Em suma, pode-se dizer que somos apenas isso: pouco de cerne – de nós próprios – e muito de circunstâncias – dos que casualmente encontramos no correr da vida, no entrelaçar incessante das tramas do destino. Cada pessoa carinhosamente guardada em nosso baú, mesmo que não queiramos, torna-se parte visceral de nossa existência, animação de nossa história e tempero de nossa felicidade. Perder quaisquer delas é amputar dolorosamente um pedaço de nós mesmos. Assim, hoje ouço os sinos dobrarem por mim. Dobram lamuriantes pelo amigo e mestre que parte em definitivo. Peça das mais preciosas que compunha o meu tesouro existencial. Grata referência de minhas primeiras investidas na arte pictórica, ainda criança. Da concepção e organização da feira de artes, em minha juventude. Das recorrências assistenciais quando a saúde exigiu a mão benfazeja do grande cirurgião, nas ocasionais enfermidades. Das contendas nas assembleias da Irmandade da Santa Casa, no calor das divergências, ao embranquecer de meus cabelos. Konstantin Christoff, em seus breves oitenta e oito anos de vida, não foi apenas influência e incentivo a um jovem artista. Foi um dos principais personagens da história de Montes Claros. Brilhante como médico. Brilhante como pintor, cartunista e escultor. Brilhante como cidadão combativo, firme, verdadeiro e caridoso. Enquanto detinha suas faculdades de comunicação escrita e verbal, declarava-se desprovido de fé religiosa. Mas ninguém explorou com tanto vigor a busca de Deus como o fizera em seus quadros temáticos. Quem teve a oportunidade de contemplar sua magnífica Via Crúcis sabe bem dessa ansiedade do artista em busca de Deus. Talvez tenha sido por isso que Ele o fez calar-se em vida, por meio de um acidente vascular, para oportunizar-lhe uma conversa íntima e longa no mais profundo de seu coração, sem a interferência da exterioridade circunstancial. (Deus cuida de suas ovelhas com grande zelo, mais ainda quando as desgarradas do rebanho emitem seu clamor aflito pelo reencontro). Assim, a fé poderia ser-lhe desperta longe do constrangimento da profanação mundana. Ninguém saberá o que se passou em seus últimos anos de silenciosa existência. Sequer terá outorga para essa invasão ao íntimo a sua madrinha de tardio batismo, a bondosa Irmã Verlle, dona de excelsa espiritualidade cristã. Hoje os sinos dobram chorosos, pelo descanso do bisturi, da trincha e do cinzel. Pelo cessar do humor refinado, da deliciosa crítica dos auto-retratos prestada aos vícios da humanidade. Pelo quedar da mão do traço mágico, personalíssimo e inimitável. Pelo repousar das cores vivas e alegres, ao cerrarem-se as pálpebras do mestre para o sono derradeiro. Cria asas e voa, meu prezado Konsta, ganha a liberdade infinita que Deus concede aos anjos e aos artistas. Vá ao encontro de Andrey e, como ele, vá sondar o brilho de outros sóis da morada eterna do Universo, levando consigo a gratidão dos amigos, dos conterrâneos de adoção, dos colegas de arte e de medicina, dos pacientes e, sobretudo, dos companheiros beneméritos de sua sempre amada Santa Casa. Acolhemos sua herança. Sua breve longa vida permanece nas páginas dos livros para levá-lo à posteridade. Sua arte continuará na beleza de seus quadros e na força de sua escultura. Seu amor arde no seio de sua querida família. Sua presença de inquieta e vibrante inteligência ainda questionará, por muitos anos, na memória dos que tiveram a grata satisfação de conviver com você. Até breve!
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