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Mensagem: O amor platônico de Niro Alberto Sena A casa da Rua São Francisco, em Montes Claros, não tinha a quantidade de árvores frutíferas no quintal como tinha a casa da Rua Marechal Deodoro, mas possuía também o seu lado mágico. Só que desta vez não vou falar do quintal, mas da frente da casa. Construída em estilo colonial recuada do alinhamento da rua, a casa tinha uma área de terra vermelha logo depois da calçada de pedras azuis. Meninos de calças curtas e pés descalços, nós jogávamos bolinha de gude e finca ali quando era chegado o período das águas. Do lado esquerdo da casa ficava o açougue de ‘seu’ Nilo, marido de dona Geralda, bem na esquina das ruas São Francisco e Corrêa Machado. A casa dele ficava na Rua Corrêa Machado e éramos vizinhos de quintais. No quintal de d. Geralda havia dois pés de caju. Um deles era de caju amarelo e o outro de caju vermelho. De vez em quando ela nos mandava bacias de caju, maior delícia! Do lado direito da nossa casa ficava a da avó de Teófilo Louro. Na casa seguinte morava Agostinho com o avô dele, e na outra, os irmãos Xeba e Dener com os pais. Eram marceneiros. Mais adiante moravam Jurandir e Carlinhos, numa casa de cor verde; esta, recém-construída já seguia o alinhamento da Rua São Francisco. Em frente a nossa casa, num terreno mais recuado, morava a família de Niro. O pai dele era mecânico. Niro hoje trabalha numa TV de Montes Claros. Ele é de sorriso fácil. Há muitos anos não o vejo. Niro todo dia a certa hora voltava para casa com a roupa suja de graxa e óleo. Mecânico gosta de vestir roupa suja de graxa, assim como o pintor de telas como Picasso, Salvador Dalí e Cândido Portinari, imagino, deviam gostar de ficar com as roupas sujas de tinta. Niro alimentava amor platônico por minha irmã, Célia. Se muito, ela devia ter 12 para 13 anos de idade. De fato, era uma adolescente linda! Tinha os cabelos claros, os olhos esverdeados, o sorriso bonito. Era uma menina que chamava a atenção. Não era só Niro que me chamava de ‘cunhado’, querendo com isto dizer que namorava Célia. Ela tinha muitos pretendentes. Mas de fato não namorava. Primeiro porque naquele tempo uma menina da idade dela era nova para namorar. Depois porque o pai dela, quer dizer, o nosso pai, era bravo. Era daqueles que ficavam de olho nas filhas. Eram seis. Atualmente são cinco. Célia não está mais no meio de nós. Niro era um dos meus melhores amigos. Tanto ele como eu éramos exímios jogadores de bolinha de gude. E porque dizia que queria namorar Célia, me bajulava achando que eu pudesse facilitar as coisas para ele. Se muito eu devia ter uns sete anos de idade e ele uns 15 anos. Ele me enchia de bolinhas de gude e sempre tinha um tempinho para jogar finca comigo. Em frente ao açougue de ‘seu’ Nilo havia um pé de manga ‘sapatinho’, em Montes Claros chamada de ‘manga comum’. Havia ali algumas casinhas e uma delas era ocupada por d. Boneca. Ela gostava de ouvir rádio em volume alto. Eram boleros, tangos e canções interpretadas por Ângela Maria, ‘A Rainha do Rádio’ e Nelson Gonçalves, que gostava de dizer: ‘Comigo é no gogó!’ Em frente à casa de d. Boneca, já na Rua Corrêa Machado, ficava a casa dos irmãos Renê, Luís, Elias e Muzinho. A família, a partir do pai, trabalhava com ônibus. Desde cedo, Muzinho e eu brincávamos de carrinhos de madeira com rodas de carreteis. Eu ficava encabulado com a pantomima de Muzinho imitando com uma quase perfeição o ronco do caminhão confeccionado em madeira inteiriça, as rodas de carreteis. Muitos anos depois, adulto e morando em Belo Horizonte soube que Elias ganhara a vida eterna e Muzinho se tornara motorista. Não sei se ainda continua motorista, mas ele tinha tudo para sê-lo. Uma vez, no ano de 1966, com os meus 17 anos, ponta direita do juvenil do Casimiro de Abreu, mais conhecido como ‘time de Bonga’, fomos ao Rio de Janeiro enfrentar o juvenil do Botafogo, em General Severiano. Quem nos levou foi Luís, num ônibus da empresa do pai dele. Na viagem de ida e de volta tínhamos a impressão que o ônibus já conhecia palmo a palmo o asfalto da estrada do Rio de Janeiro, porque nas curvas os pneus cantavam que era uma beleza! Durante a viagem toda ficamos com o cotovelo apertadinho, com medo de o ônibus tombar na próxima curva e rolar abismo abaixo.
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