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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: O menino e Mahatma Gandhi Alberto Sena O menino não tinha completado sete anos de idade, em Montes Claros, na casa da Rua São Francisco, quando lhe chegou às mãos uma revista chamada ‘O Cruzeiro’. Cheia de fotografias, parecia mais com os gibis que ele costumava ler já em início de alfabetização. Tinha o ‘Amigo da Onça’, que o menino achava ‘amigo da onça’ demais, pois sempre tirava o dele da reta e deixava o dos demais. Numa vez, o menino ficou impressionado com a figura de um homem franzino, carequinha, boca murcha, vestido só de túnica branca, calçado de sandálias de dedo, segurando um cajado. O homem falava alguma coisa sobre a não-violência, divergia das guerras, e o menino se perguntava ‘por que meu Deus, as pessoas têm de fazer guerra quando podiam viver em paz?’ O homem não era outro senão Mahatma Gandhi. A figura dele ficou gravada na memória do menino. E tanto ficou que, entrante na maioridade, o menino procurou nas livrarias os livros do Mahatma. O mais completo leva o título ‘Gandhi – Minha vida e minhas experiências com a Verdade’, traduzido da edição francesa por Constantino Peleólogo, com apresentação e notas de Pierre Meile, professor de línguas modernas da Índia na Escola Nacional de Línguas Orientais Vivas. Impressionante o livro, biográfico. Nele, Gandhi conta sua vida e surpreende com confissões do tipo: ‘Com um dos meus parentes, tomei gosto pelo fumo. Não que fumar nos parecesse bom, ou que o odor do cigarro nos arrebatasse além da medida. Simplesmente, pensávamos experimentar uma espécie de prazer ao exalar nuvens de fumaça. Meu tio era fumante e o vê-lo incitava-me a imitá-lo. Mas não tínhamos dinheiro. Começamos, pois, por apanhar as pontas de cigarro que meu tio deitava fora’. Era um homem simples, tímido, e aos poucos se percebia as mudanças nele operadas em busca da Verdade. Com relação à Bíblia Sagrada, o Novo Testamento causou ‘impressão muito diversa’ em Gandhi comparado ao Antigo Testamento. ‘(...) Principalmente o Sermão da Montanha, que me foi direto ao coração. Comparei-o com a Gitâ. Os versículos: ‘E eu vos digo para não resistirdes àquele que vos maltrata; pelo contrário, se alguém vos bater na face direita, oferecei-lhe ainda a outra. Se alguém quiser discutir convosco para tomar-vos a vossa veste, dai-lhe também o vosso manto’, me satisfizeram além de toda medida, e me recordaram o ‘Pela água, dá uma boa refeição ...’, de Shâmal Bhatt (um dos grandes nomes da literatura gujrate, nascido por volta de 1640, morto cerca de 1730). Não é o caso de aprofundar em Gandhi aqui, mesmo porque não dá para falar tudo sobre esse grande homem pequeno e humilde, considerando a biografia dele, de 522 páginas. Mas prestem atenção nesta citação: ‘Se bem que fosse atacado de duas doenças graves em minha vida, estou convencido de que o homem não precisa, por assim dizer, de usar medicamentos. Novecentas e noventa e nove vezes em mil, o doente pode restabelecer-se por meio de um regime bem ordenado, de tratamento pela terra e pela água e outros remédios elementares. Aquele que corre ao doutor (...) à menor doença e que engole toda a espécie de drogas de base vegetal ou animal não somente encurta a vida como, tornando-se escravo do seu corpo em vez de permanecer o senhor, perde o domínio de si e deixa de ser um homem’. Nessa rápida incursão aos ensinamentos de Gandhi, melhor mesmo é encerrar por aqui com outra citação dele que, certamente, mexerá com a cabeça de muita gente do lado de cá, do ocidente: ‘Para ver face a face, em sua universalidade e em sua impregnação de todas as coisas, o Espírito da Verdade é preciso estar em condições de amar como a si mesmo a mais mesquinha das criaturas. E quem a isso aspira, não pode permitir-se que seja excluído de nenhum domínio em que se manifesta a vida. Eis por que o meu devotamento à Verdade me arrastou para o campo da política; e posso dizer, sem a menor hesitação, mas também com toda a humildade, que nada entendem de religião os que pretendem que a religião nada tem em comum com a política’. Guardadas as diferenças culturais, socioeconômicas, antropológicas e religiosas, Gandhi, para o menino diante da foto dele publicada na revista ‘O Cruzeiro’, era mesmo que vê Jesus Cristo. Diante do seu algoz, que lhe disparou um tiro fatal, Gandhi esboçou um sorriso nos lábios e o perdoou, assim como Jesus fez ao dizer: ‘Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem’.

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