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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Preservação da seresta - Roberto Elísio - Nos seus últimos anos de vida, o caboclinho querido Sílvio Caldas, considerado um dos maiores intérpretes de canções de serenata no Brasil - quase se nivelando a Orlando Silva, na minha modesta opinião o maior de todos eles - cansou de insistir que tanto o Ministério da Educação quanto o da Cultura deveriam incluir a música popular brasileira no currículo escolar. Não obteve maior êxito, mas ficaram as sementes de sua pregação. O samba, por exemplo, passou a ser considerado patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Agora, vem do modesta distrito de Conservatória, da cidade de Valença, região do Médio Paraíba, uma notícia que deveria ser tomada como referência por muitos outros municípios brasileiros, principalmente em Minas, Estado rico em tradições e em história: o prefeito local, Vicente Guedes, do PSC, por meio de decreto, passou a considerar a seresta como patrimônio municipal e proibiu o som amplificado nas ruas e nos bares do distrito. Na justificativa da medida, o prefeito destaca que o excesso de barulho eletrônico estava irritando os turistas e prejudicando a famosa serenata que percorre suas ruas do Centro às sextas e aos sábados. O cortejo, que também vai a hotéis, é uma das principais atrações de Conserva-tória e atrai visitantes de todo o Brasil, ´principalmente cariocas, paulistas e mineiros´, segundo informa matéria de alto de página publicada há dias pelo jornal ´O Globo´, do Rio de Janeiro, ilustrada por expressiva fotografia de cantores e violonistas em ação, com a seguinte legenda: ´Sob a janela, seresteiros cantam e encantam em Conservató-ria´. Ainda de acordo com a publicação, o gosto do turista pela típica seresta é reconhecido até por quem costumava recorrer ao som eletrônico. Conta o comerciante local Alberto Figueiredo, dono do Restaurante Do-Ré-Mi, um dos mais tradicionais da região de Valença, que apresentava uma dupla de tecladista e cantor todos os sábados, a partir do meio dia, com bom repertório e som eletrificado, mas apoia totalmente o decreto: ´Estávamos matando a nossa galinha dos ovos de ouro, porque o turista vem aqui à procura de seresta. É um público de meia idade e bom poder aquisitivo. E o tipo de música que estava sendo apresentado em certos lugares acabava atraindo pessoas de outro perfil e afastando os demais´, ponderou, sabiamente. Acabei de ler a matéria e viajei à romântica e seresteira Santa Luzia de minha infância e do início da mocidade boêmia. Que falta faz a sensibilidade de um decreto como o que está salvando a tradição musical de Conservatória, um pequeno distrito plantado lá na região do Médio Paraíba. Figuras e instrumentos do passado desfilam pela memória: Gê e Rolando de Brito, invariavelmente com seus violões debaixo do braço ou roçando o peito; Antônio Tibúrcio e Modestino Neto com suas clarinetas. Às vezes, quando vinha a Belo Horizonte apresentar algum show, Orlando Silva, o eterno ´Cantor das Multidões´, enchia de poesia as ruas luzienses com sua voz fascinante: ´Passaste hoje ao meu lado/ Vaidosa de braço dado/ Com outro que te encontrou/ E eu relembrei comovido/ Um velho amor esquecido/ Que o meu destino arruinou´... Infeliz e melancolicamente, os tempos não voltam, mas os bons costumes precisam permanecer, com a indispensável preservação das tradições que escrevem a história de um povo. E as serenatas, sem dúvida alguma, constituem das mais belas pérolas musicais herdadas ao longo dos anos. Que o digam o escritor José Bento Teixeira de Salles, criado sob a inspiração do luar de Santa Luzia, o jurista Fausto da Matta-Machado, embalado na suavidade das noites de sua Diamantina, o jornalista Paulo Narciso, rebuscando as letras de João Chaves, em Montes Claros, e o advogado Genaro Jardim, defensor inflexível da eternidade das velhas serenatas. Sejam em Santa Luzia, sejam em Diamantina, Montes Claros ou na poética Curvelo de outros tempos.

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