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Mensagem: “Trem de Ferro” que deixou Saudades. Ruth Tupinambá Graça Não sei mesmo porque o nosso “Trem do Sertão” foi desativado, cortado sem piedade. Um transporte que durante muitos anos nos trouxe tanta alegria e tantos benefícios. Desde os idos de 1700, 1800, e até inicio de 1900 o sonho do montesclarense era o “Trem de Ferro”. Sonhavam com a “Maria Fumaça” atravessando este nosso sertão, deixando para trás, a estrada Enfumaçada, enquanto o seu apito saudoso escoando-se entre as imensas matas, espantando os passarinhos dos seus ninhos, correndo vertiginosamente para socorrer as pequenas cidades do interior, proporcionando melhores oportunidades aos viajantes e comerciantes. Este sonho durou muitos anos. Vários estudos foram feitos, engenheiros foram contratados, mas não se sabe por que tudo fracassou. O primeiro movimento foi através de uma Sociedade Anônima com sede no Rio de Janeiro da qual o Concessionário era o Cel. Cipriano de Medeiros Lima, Barão de Jequitaí e o mais importante fazendeiro daquela região. O capital era três mil contos de réis que ele passou com seus direitos á referida Sociedade. Vários estudos foram iniciados, mas não se sabe por que tudo fracassou. Outras vias férreas em 1896 foram no abandono pões os Governadores pouco se importavam com a nossa pobre MONTES CLAROS embrenhada neste imenso sertão das Gerais. Os valentes tropeiros foram os únicos e grandes , por muito tempo heróis do transporte. Entretanto a E.F.C.B. vinha aproximando a passo de tartaruga. Mas um dia (há sempre um dia na vida das pessoas e também das cidades) 0 Ministério da Viação caiu nas mãos de um filho do Norte de Minas o Dr. Francisco Sá E o milagre aconteceu. Ele foi o Santo milagreiro e um grande sertanejo amigo do Norte Mineiro. Com seu patriotismo, ciente dos ideais e necessidades dos montesclarenses prometeram trazer a E.F.C.B. a Montes Claros. A inauguração da Estação de Bocaiúva estava marcada para 7/6/24 com a presença do Ministro da Viação Dr. Francisco Sá. Que naquela ocasião visitaria M. Claros para resolver definitivamente o problema da E.F.C.B. Foi uma benção e salvação para nossa terra. Naquela época era Presidente da Câmara o Cel. Antônio dos Anjos (pai de Cyro dos Anjos) que foi um grande batalhador para que o grande sonho se transformasse em realidade. Toda a cidade vibrava com a próxima visita do Ministro e os Preparativos para a recepção começaram desde o inicio do ano. Tudo foi programado da melhor maneira possível, com entusiasmo em todos os setores. Até os partidos Políticos (estrepes e pelados) inimigos mortais, deixando de lado as rixas políticas abrandaram-se os corações e passaram a trabalhar juntos, pois o objetivo era não decepcionar o Ministro. Comissões foram organizadas para angariar donativos e a Câmara Municipal não poupou os cofres soltando as verbas. A cidade toda se embelezava para receber o, em seu seio o grande amigo e filho do sertão. Melhorando as fachadas das casas, lojas e prédios, com pinturas, podando árvores, reconstruindo telhados escuros e mofados, remendando paredes, trocando madeiras e telhas quebradas, encascalhando ruas sem calçamento, etc. O único assunto era a visita do Ministro e o entusiasmo crescia dia a dia e ele não nos decepcionou. No dia marcado por ele 8/6/24 chegava a nossa cidade com a sua comitiva. Era um sertanejo de palavra o que hoje é tão raro!... O Dr. Francisco Sá desceu á pé, acompanhado pela multidão, Banda de música, pipocar do foguetório, pelas ruas enfeitadas com arcos de bambu, flores, bandeirolas coloridas e em todas as esquinas faixas com boas vindas e agradecimentos. Foram dois dias de festa!...Discursos,, recepções,banquetes ,bailes etc. Nossa cidade não possuía recursos para uma recepção á sua altura (cidade pobre) entretanto o Ministro se encantou com o entusiasmo, a alegria e a educação do montesclarense e a beleza das “donzelas sertanejas” que se esforçavam para agradá-lo. O Ministro era um homem inteligente. Percebeu logo que aquela cidade tão esquecida pelos governantes, era de grande futuro, bastava apenas um “empurrão” por mãos fortes para levantá-la. E ele decidiu fazê-lo, enfrentaria todos os obstáculos. Prometeu que no dia 01 de Setembro de 1926 o “Trem de Ferro” chegaria a Montes Claros. E no dia marcado por ele, a “Maria Fumaça” entrou em Montes Claros apitando enquanto toda a população montesclarense esperava com Banda de Música e foguetes. Finalmente o grande sonho se realizára e comemorado com euforia total que durou Quatro dias!... Daí para frente tudo se modificou em nossa terra que teria agora um meio de transporte diário, viagens mais confortáveis, facilidade aos jovens para estudarem na Capital e principalmente para os negociantes tudo seria mais fácil e mais econômico. Para a Juventude e também para os adultos, o passeio a Estação Ferroviária, assistir a partida e chegada do “trem de Ferro”, todos os dias, era a melhor distração. Quando as férias terminavam, uma hora antes da partida do trem, já se via os casais de namorados com olhares melosos, de mãos dadas na expectativa da partida. Aquela viagem (hoje tão simples) era naquela época, como se o “querido” estivesse partindo para um pais distante e a incerteza da volta preocupava-lhes. A “Maria Fumaça” barulhenta, esbaforida soltava vapor e apitava longamente. O maquinista todo vaidoso já estava no seu posto. Um velho de boné e roupa azul marinho, lá na frente, sacudia a bandeirinha anunciando a partida. Uma campainha estridente cortava os ouvidos dos assíduos freqüentadores. Os passageiros se despediam dos seus familiares movimentando-se na estreita plataforma. Os casais amorosos se despediam e lágrimas indiscretas corriam pelas faces das mocinhas. Os rapazes, na ultima hora, corriam e se agarravam ás alças do vagão de passageiros para pisar no estribo de entrada. Saiam com o coração apertado. Era o adeus!...E a “Maria Fumaça” se afastava lentamente á principio, depois mais rapidamente e se encobria na curva, deixando apenas um lamurioso apito. Mais tarde a maquina á óleo chegou a Montes Claros e as viagens ficaram mais confortáveis e mais rápidas. AS cabines eram um luxo, separadas por cortinas pesadas. Quando jovem, ainda solteira, viajei muito neste “Trem” e mais tarde com meu marido e meus filhos (ainda criança) que se encantavam com as cabines separadas por cortinas coloridas.Era uma folia, e como Eles brincavam e se enrolavam nas cortinas!.... Tenho tanta saudade!... Não me conformo com o seu desaparecimento O seu apito lamurioso ficou gravado em meus ouvidos e nunca poderei esquecê-lo. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).
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