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Mensagem: Manoel Hygino dos Santos Prisão em Ouro Preto Há três anos, o jornalista Paulo Narciso, em documento pessoal, me dizia que ´a cultura oficial quer de nós o silêncio, que este não incomoda ao poder´. É assim, mas insistimos contrapor-nos ao que incomoda, dói e ofende. Recordo, por oportuno, os 40 anos de um episódio que marcou 1971, alcançando repercussão nacional. Naquele remoto e triste período, Judith Malina, teatróloga e militante anarquista, residente em Nova Iorque, esteve presa em Ouro Preto. Narciso, conterrâneo, jovem, movido pelos mais caros ideais de moço e homem de Imprensa, acompanhou os duros dias de Judith e do marido Julien Beck. Escreveu, então: ´O ai que vazasse das prisões, e vazava apesar da repressão e da censura, o ai podia ser resgatado e multiplicado como tambores dispersos de uma floresta. O gemido passava pela porta dos cárceres, e vinha dos subterrâneos e dos porões, e era recolhido, e era ouvido; e uma rede de compaixão se estendia acima das ideologias.´ Era o `Living Theatre`, toda a troupe internacional reconhecida como o teatro de vanguarda mais importante do planeta. Por que a atitude estapafúrdia e infeliz? O jornalista anotou: ´Vagas acusações. Eram cabeludos e mal cheirosos; não gostavam de banhos. Seriam depravados, usariam drogas, mas nenhuma foi encontrada com eles; jovens artistas de variadas nacionalidades que, depois de soltos, nos anos seguintes, ascenderiam ao topo da carreira em seus países de origem. Presos e soltos em questão de horas, e novamente trancafiados´. Por quê? Na realidade, nada havia que justificasse a detenção. Enfim, ´descobriu-se´ uma vistosa seta de tinta branca recente, no piso da casa, que foi cavacada pela polícia. Maconha. A notícia ganhou o mundo. O grupo mal cheiroso, dado às drogas, e que tinha o costume de ler os clássicos da poesia grega e compêndios de política, estavam confinados detrás das grades. Judith mantinha atualizado o seu diário. Mas o tom é sereno, meigo, poético. ´Gentil até com os carcereiros, com os acusadores´. Para o jornalista, ´falou nela o sentimento que chamamos de cristão, mas Judith, nascida na Alemanha, era judia. O conteúdo é do humanismo de filosofia anarquista que fez do `Living Theatre` o grupo teatral de vanguarda mais importante do mundo, mesmo após a morte de seu fundador, Julien Beck, em 1985´. O repórter descreve: O fato ´tem o poder de despertar a recordação de uma mulher pequenina, afável, e de seu marido Julien, amoroso casal, e da filha de 4 anos, que se despediu dos pais com um aceno entre grades´, levada pela avó para os Estados Unidos. Judith, em seu diário, registrou: ´Em procissão, viajamos por entre as magníficas montanhas. Espantados, depois de um mês de cadeia, pela amplidão do céu, pela magnificência da terra de Deus, da qual a mão do homem nos isola, Julien e eu trazíamos trabalho (os livros), mas o que podíamos fazer era apenas fitar sonhadoramente´. Em pleno Festival de Inverno, pressionado pela mídia internacional e intelectuais, o governo militar expulsou Beck e Malina.
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