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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Rua Bocaiúva (1) Alberto Sena A Rua Bocaiúva já foi até lá embaixo, próximo da Praça de Esportes, com o mesmo nome. Mas na década de 1930, para homenagear o intendente que fez boa administração da cidade, o trecho da Praça Coronel Ribeiro para baixo ganhou o nome de Dr. Santos. Na Rua Bocaiúva tinha um comerciante que tocava venda ou podemos chamar de armazém, no trecho paralelo à via férrea da Central do Brasil. Foi um dos precursores dos supermercados de hoje. A venda dele ainda fica até hoje, meio século depois, no mesmo lugar, acima do cruzamento com a Rua Corrêa Machado, no sentido centro Vila Guilhermina. Arquilino era ‘a salvação das donas de casas’, exclamou Dilemar Espíndola, que já foi ‘Miss Montes Claros’, na época descoberta pelo papa do colunismo social da cidade, o jornalista Lazinho Pimenta. Arquilino era homem de poucas palavras. Se ainda escuto a voz dele, o tom era mais para agudo. De compleição magra, tinha tez morena, o nariz afilado, os olhos miúdos e os cabelos lisos sobre testa grande. Era de estatura média. ‘Ô menino, toma aqui o dinheiro e vai lá na venda do ‘seu’ Arquilino correndo comprar um quilo de sal’. E o menino corria, subia a Rua Corrêa Machado e entrava à direita na Rua Bocaiúva. Cem metros adiante, se muito, era a venda de ‘seu’ Arquilino. Antes de prosseguir seguro nesse fio de lembrança, que traz a visão de um tempo entre os tempos bons vividos, não se pode deixar de dar uma paradinha na esquina das ruas Corrêa Machado com Bocaiúva. Na casa da esquina, bela morada edificada num plano mais alto da rua, arquitetura que nas lembranças parece misto de colonial e barroco, tinha dois ou três bonecos esculpidos no alto. E numa área de terra batida ao lado da casa reinava exuberante enorme pé de manga rosa legítimo. Nunca mais, em tempo algum, se encontrou manga rosa, legítima, como as mangas rosa daquela casa. Era irresistível a tentação de jogar pedras na mangueira e derrubar algumas, sempre que era chegada a estação das águas. O pé de manga rosa não existe mais, ind’agorinha soube. ‘Seu’ Arquilino morreu faz uma data. Mas a venda dele continua administrada pela viúva, Terezinha Lopes e filhos. Ela fazia salgados para vender quando o marido era vivo, atribuição agora transferida a um dos filhos. O interessante foi lembrar: Terezinha tinha um irmão chamado Raimundo Lopes, falecido há cinco anos. Ele deixou viúva Elza Batista Lopes, minha irmã; e órfãos de pai os filhos Ricardo, Rosemeire, Ronaldo, Rosângela, Rachel e Rosilene. Em frente à venda do ‘seu’ Arquilino tinha casas de funcionários da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB). Eram casas do tipo ‘populares’ todas iguais. Uma passagem estreita dividia a série de casas, e dava acesso à estrada de ferro. ‘Seu’ Arquilino vendia um pouco de tudo que as donas de casas precisavam, desde o básico, produtos não perecíveis ao pão e enlatados. Nessa época, as ruas eram de terra. Quando chovia era um lamaçal só, principalmente nesse trecho da Rua Bocaiúva onde fica a venda. Terra vermelha, que na estiagem virava pó, aquela poeira do Cerrado que impregna para sempre até a alma de quem é montesclarense de nascença e mesmo quem a cidade adotou. Particularmente, alegrava mais o menino quando conseguia apurar algum dinheiro vendendo cascos de garrafas de cerveja consumidas por Nelson Damasceno Murça e o irmão dele, Brandão, juntamente com os colegas alfaiates. Bebiam e ainda levavam os cascos para casa. A mulher dele, também chamada Terezinha, é minha irmã. Ela dava os cascos de cerveja, que eram vendidos aonde? Na venda do ‘seu Arquilino’. O dinheiro apurado era para satisfazer as necessidades básicas do menino, como comprar bolinhas de gude novas, tipo olho de gato. O máximo! E comprar figurinhas para o álbum de futebol ou de Marcelino Pão e Vinho, álbum baseado no filme espanhol com Pablito Calvo, na época fazendo sucesso. Depois, era só encontrar adversário à altura. Abrir um buraco no chão, chamado ‘biloia’ e dizer: ‘gude please’ e pronto, estava iniciada a partida. Quem acertasse primeiro a ‘biloia’ conquistava o direito de quicar a bolinha do adversário, e acertando de fato, ganhava a partida, muitas das vezes valendo uma bolinha. Nessa época, os hormônios da testosterona circulavam a flor da pele. E era excitante trocar olhares pueris com as meninas da Rua Bocaiúva. Principalmente com aquela de olhar especial.

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