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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Velhos Carnavais (3) “Guardo ainda bem guardada a serpentina...”(David Nasser e Haroldo Lobo) 1963. A moçada do bloco de Paulo de Paula está pronta para sambar. Vestem-se de malandros: roupa branca, colete de cetim azul e chapéu de palha. Paulinho, como os antigos foliões montes-clarenses, compõe o samba tema. Logo decoro a letra: “ Moc em ritmo de samba, vai abafar. Eu quero ver neste carnaval, morena linda, o seu corpo gingar!” O pessoal da bateria gira pelo centro na carroceria de uma caminhonete. Mais tarde todo o bloco brinca nas ruas pelo puro prazer de brincar. Moc realmente abafa, naquele 1963. Na terça feira gorda vem o convite do meu pai: “Quer ir ao baile?” Ora, se quero. Não vejo muita diferença da festa vespertina. Noto apenas que, à noite, o porre corre solto. Os rapazes cheiram lança nos lenços, abertamente, apesar da proibição acontecida em 61. Impressiona-me a animação do meu pai e entendo, então, a causa dele ter sido considerado o folião da noite, alguns anos antes. Passo um tempo com ele e minha mãe no segundo andar, bebericando alguma coisa. Depois, desço para a pista. Fico ali parada, olhando, com receio de dançar sozinha. E então, eis que surge um mascarado, joga-me uma serpentina e, de braços abertos, convida: “Vem, não deixe pra depois, depois, vem que a noite é de nós dois, nós dois...” Eu vou. E nem me importo com os empurrões e machucões costumeiros. Dia seguinte, quarta feira de cinzas, guardo aquela serpentina dentro de um caderno. Anoto: “ Para lembrar sempre.” Em 64 preparo-me para mais um carnaval. O bloco “de Paula” está na maior empolgação. Fantasia do ano: Havaianos. Já no clube, uma das primas oferta-me um dos colares coloridos, dando vida a minha roupa chué. Danço com um primo, recém chegado de São Paulo. Bonito, alto e forte, torna-se um escudo protetor admirável. O clube está lindo, a alegria corre solta, o Rei Momo chama a todos para a folia, exatamente como em todos os anos. A orquestra toca quase sem parar, com Roque Barreto marcando o ritmo. Mas... há um quê de tristeza dentro de mim, reforçado pela música mais cantada do ano: “É lua cheia, nem sei pra que, se eu tenho os braços, vazios de você.” Chega 1965. Algo estranho parece ameaçar o carnaval. Por razões que nunca soube, Paulinho desiste do bloco, após três anos alegrando nossas vidas. E, chega a notícia que a lei anti lança perfume será cumprida à risca. Meu pai, que já tinha sentenciado o fim do carnaval devido à proibição, comenta que sem lança perfume não tem a menor graça. Mesmo assim, visto-me com uma roupa confortável e jogo pó dourado nos cabelos, para dar o clima. Ás 21 horas seguimos para o baile. Mas, o que é isso? Ninguém nas ruas. É carnaval e as ruas estão vazias. Como pode ser? Espantados, entramos no clube, também vazio. Incrível. A pista do primeiro andar está entregue às moscas. O baile acontece no andar de cima onde alguns poucos gatos pingados fingem animação. Quase todas as mesas desocupadas. “ O que será que aconteceu?” Indaga minha mãe. Meu pai mata a charada:- “ Devem estar no Automóvel Clube. E é para lá que vamos.” O Automóvel Clube, recém inaugurado, construído pelo Partido Republicano, não goza da simpatia de meu pai, do PSD. Mas, diante do vazio do clube do seu partido, não há outro jeito. Pedimos a conta e vamos a pé à procura do carnaval. Que paradeiro! A rua São Francisco está como numa noite qualquer. De lá, ouvimos o som do carnaval e logo avistamos o clube feericamente iluminado. Fico de boca aberta com a beleza do lugar. Dois andares, portanto, um a menos que o Montes Claros. Mas, com amplos salões, espaço de sobra e até mesmo uma piscina! Subimos para o salão principal. Logo estou dançando com um belo jovem “cabeludo”, do jeito que gosto. Meu pai comenta: “ O carnaval não acabou. Apenas mudou de endereço.” Referia-se ao carnaval de clube, pois o de rua tinha acabado. Na volta para casa sinto um gosto de adeus. Na mente vem a imagem de um certo mascarado de um tempo já distante. Com a imagem, vem a música que tocava quando com ele dancei. “A noite é linda nos braços teus, é cedo ainda pra dizer adeus...” Melancolicamente, digo adeus a ele ...e a Vavá Alfaiate, Madame Bichara, o bloco de Paulinho, os foliões dançando nas ruas, Seu Mário garçom, Roque Barreto, o querido clube Montes Claros. Uma era feliz tinha acabado. Outra era estava começando.

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